Instrutor de dança?
Salvador, alvorada de 8 de maio de 2023.
Longo demais, resumindo:
Vá com medo, mas vá! Mesmo que ninguém acredite em você, nem mesmo você, vá e se desafie. Deus acredita em você! Nada na vida é fácil. Mas, mais difícil ainda é viver sem buscar ir além do seus limites e se superar. Se as coisas na vida fossem fáceis, não teria graça viver.
Quando éramos criança, sonhávamos em ser médico, astronauta e bombeiro. Vamos crescendo e pensando que não estamos aptos a fazer as coisas que gostamos e sonhamos.
Na escola eu achava matemática muito difícil de assimilar na sala, mas chegava em casa e me dedicava muito para aprender. Cada conta que eu fazia eu checava 3 vezes para ver se tinha feito corretamente, pois muitas vezes eu me atrapalhava. Graças ao meu esforço extra eu me dava muito bem. Era o último a terminar as provas, mas consegui ser vitorioso no ensino médio.
Entrei para a faculdade de ciência da computação da UFBA e achava o curso dificílimo nas matérias de matemática. Algumas matérias eu nem conseguia entender o que os professores escreviam no quadro. Agora depois de adulto eu vim saber que eu estou no espectro do autismo e tenho mais dificuldades de entender textos escritos a mão do que o resto das pessoas. Não achava que aquilo era para mim, pois repeti várias vezes as matérias de Cálculo e Álgebra. Meu consolo era ver que não estava fácil para ninguém. Muitos desistiram da faculdade de computação. Eu perseverei tanto e me dediquei para me superar que no final do curso eu fui indicado para ser pesquisador na faculdade de matemática na Inglaterra pelo querido professor Valter Senna.
Chegando lá na Inglaterra foi muito difícil me adaptar a língua e ao meu trabalho. Mas me dediquei tanto que fui indicado a fazer um doutorado na área de Inteligência Artificial. Escrevi meu doutorado, provei que tinha descoberto uma inovação na área em que estava pesquisando, mas não me achava pronto para ser doutor e nunca defendi a minha tese. Voltei para o Brasil e fui trabalhar como gerente de desenvolvimento de software, nunca tinha sido líder de nada e não me achava pronto. Fui mesmo assim e foi o melhor emprego que eu já tive até então, me dediquei muito, dava ótimos resultados e meu chefe e amigo pessoal Humberto estava satisfeito.
Meu amigo Willian Magno me falou para fazer o concurso do Serpro para analista de sistemas. Eu não me achava pronto, pois achava que não tinha estudado nada para aquele concurso. Realmente não estudei especificamente para aquele desafio, mas meu período trabalhando me fez aprender os conteúdos e passar no concurso. Lá no Serpro eu achava tudo muito complicado, não conseguia me concentrar no trabalho era muito barulhento, com mais de cem pessoas na mesma sala gigante o dia todo. Eu tinha experiência em sistemas que eram feitos para uma empresa, lá os sistema são feitos para os cidadãos do Brasil. Além do mais, aquele barulho de muita gente trabalhando me deixava mentalmente exausto nos primeiros anos. Também atribuo isso ao meu TEA (Transtorno do Espectro Autista) e TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), queria ter sabido disso naquela época. Mesmo assim eu não tinha vergonha de me acharem uma pessoa estranha, quando precisava me concentrar em alguma tarefa urgente eu procurava uma sala e ficava isolado lá.
Também no Serpro surgiu a oportunidade de dar aula para a oficina social de inclusão digital, que era para iniciar adolescentes de escolas públicas na computação. Com cursos de design gráfico, rede de computadores, programação, etc. Eu nunca tinha dado aula e morria de vergonha de falar em público. Não tinha didática nenhuma pra dar aula. Felizmente apliquei uma estratégia que acredito que tenha dados bons resultados. Usei gamificação, que é similar a apresentar constantes desafios aos alunos como se estivéssemos em um jogo. Eu e os alunos nos divertimos muito. Surgiu aí o projeto psicohelp.org que desde 2017 ajuda pessoas diariamente a acharem ajuda psicológica. Um dos meus alunos falou que o curso de programação incentivou ele a fazer faculdade de computação. Já valeu a pena ter superado meu medo!
Recentemente fiz uma pós-graduação em Inteligência Artificial. Mais uma vez foi árdua a matéria de estatística, mas me dediquei ao extremo e passei com nota máxima em muitas matérias, inclusive estatística. Estava complicado encontrar tempo para estudar, pensei bastante em desistir. Meu TCC foi tenso de fazer, muitas vezes achei que não ia conseguir terminar. Muita dedicação dia a dia e no final passei com a nota máxima também.
Mudando um pouco de assunto, mesmo enfrentando os preconceitos eu era o único homem que fazia as aulas de Swing Baiano na academia. E dançava muito desajeitado, tinha vergonha demais de me ver dançar. Mesmo assim era uma coisa que me trazia felicidade. Foram muitos anos tentando acompanhar os passos fora do ritmo e cometendo muitos erros. Finalmente compreendi que as dificuldades que eu tinha na dança também eram causadas pelo meu autismo. Mas não dei importância e continuei tentando mais. Em 2023 eu me curei da vergonha de me ver dançar pela primeira vez. Ví o anúncio do meu instrutor Vitor sobre um treinamento e certificação de instrutor de fitdance. Juro que não tinha a menor pretensão de passar. Queria só me divertir e ter um dia diferente. Me inscrevi de última hora, ensaiei no meu tempo livre. Conheci pessoas incríveis, tive um dos melhores dias da minha vida. Agora sou certificado em instrutor de fitdance aos 45 anos. Me sinto preparado para dar aula? De forma alguma, mas aos poucos irei indo me desenvolvendo. Não tem pressa não. Só o fato de ter me superado mais uma vez foi uma grande conquista.
Obrigado meu Deus maravilhoso que sempre acredita em mim mesmo quando nem eu acredito. Te amo! Vou seguir sua dica e passar a acreditar mais em mim a partir de agora.